sexta-feira, 9 de julho de 2010

Maçãs murchas, salto alto, ansiolíticos e afins

Espera-se da mulher, hoje, o cumprimento de vários papéis, como os de boa profissional, boa mãe e boa companheira. No entanto, muitas pessoas – nem sempre só homens – continuam pensando em tais mulheres como se pensava antigamente, ou seja, como cumpridoras do trabalho do lar e procriadoras.
É evidente que a mulher conquistou muito. Entretanto, percebe-se que ela ainda é tida, de acordo com a concepção de muitos, como a figura matriarcal suprema no lar. No lar. Não na Política, nem em ONGs, nem na Literatura, nem na sociedade, apenas no lar. Sem desmerecer tal função, que precisa, com toda certeza, ser mais valorizada; deve-se, ainda, pensar na mulher como igual e não apenas como a Gata Borralheira, transformada em princesa e cujo sapatinho de cristal pode resolver todos os problemas. Afinal, se Cinderela pudesse opinar, certamente diria que andar todos os dias com sapatos cujos saltos são de cristal deve ser, além de cansativo, muito doloroso.
Analogamente, pode-se perceber que a mulher é vista como multifuncional. Isto é, ela precisa ser uma profissional competente, ou não será bem sucedida no cargo; precisa ser uma mãe exemplar, ou falha com sua família; precisa ser uma amante dedicada, ou destrói seu relacionamento. Todas essas tarefas não são somente obrigações das mulheres, uma vez que os homens também participam ativamente dessas relações. E estes deveriam parar de esperar pela Branca de Neve, já que as maçãs murcharam e ela, agora, ambiciona tâmaras egípcias e, para consegui-las, a princesa precisa fazer um pouco mais do que ficar limpando a casa dos sete anões na espera do príncipe encantado.
Além disso, pode-se notar que a sociedade quer soluções fáceis para tudo, pois elas encurtam caminhos, facilitam decisões e, por isso, fazem a vida fluir mais feliz. Um homem moderno deve ansiar pela mulher linda, rica e independente, enquanto as mulheres devem fazer o inimaginável para alcançar esses modelos. Mas, e fosse possível recorrer à ajuda de fadas madrinhas? Bem, elas, agora, estariam tratando-se à base de ansiolíticos e antidepressivos, devido àqueles desejos ininterruptos, muitos feitos à toa.
Por muito tempo, e talvez até hoje, ouve-se dizer que a mulher quis deixar os afazeres domésticos para ganhar independência e espaço nos vínculos sociais, mostrando que valia tanto quanto o homem. Somente em parte isso é verdade, pois tal “saída”, realmente, proporcionou-lhe rumar novos horizontes, mas devido às necessidades de, às vezes, complementar a renda da casa que o marido não agüentava mais sustentar sozinho.
Logo, pode-se notar que a mulher só pode libertar-se do jugo ideológico quando perceber que pode deixar de ser uma “princesa” enclausurada em um castelo, cujos muros são as imposições sexistas, e tornar-se, fora dessa fortaleza, uma voz ativa e pensante em meio a uma multidão que, talvez por orgulho, não desça do salto.

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